Transição do El Niño para a Neutralidade influenciam o clima em junho
O mês de junho de 2024 será marcado por um cenário climático complexo no Brasil, com chuvas abaixo da média em grande parte do país e temperaturas significativamente acima da média histórica.
A principal causa dessa complexidade é a transição do El Niño para a Neutralidade, o que significa que a atmosfera ainda está se ajustando a esse novo padrão.
As projeções indicam que praticamente todo o país terá chuvas abaixo da média, com destaque para o PR, SP, MS, AC, AM, Roraima, norte do PA, AP, norte do MA e norte do PI. Mesmo em SC e RS, a tendência é de chuvas abaixo da média, com exceção do litoral sul de SC e da metade leste do RS, que podem ter precipitações mais frequentes.
As temperaturas também devem ficar acima da média em todo o país, com destaque para o MS, norte do PR, SP, Triângulo Mineiro, GO, sudeste do MT, TO e sul do MA, onde os termômetros podem registrar até 2°C acima da média histórica.
Esse cenário de poucas chuvas e calor acima da média pode ter impactos negativos para a agricultura, especialmente para as culturas de clima temperado, que podem sofrer com a falta de água e estresse hídrico.
Chuvas registradas em maio 2024
O grande destaque das chuvas em maio foram os grandes volumes registrados no Rio Grande do Sul, com algumas localidades registrando mais de cinco vezes o esperado para o mês inteiro.
De acordo com a normal climatológica de maio – isto é, a média de toda a chuva ocorrida nos meses de maio entre 1991 e 2020 – do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) a média de chuvas esperada no estado gaúcho, varia entre 140 a 180 mm na maioria das estações.
Contudo, alguns pontos do estado tiveram até 940 mm no decorrer do mês, de acordo com as estações monitoradas pelo INMET.
- 545.0 mm – UHE MONJOLINHO CRUZALTENSE (RS)
- 545.6 mm – PCH JOSÉ BARASUOL MONTANTE (RS)
- 551.2 mm – CGH JOÃO DO PASSO BARRAMENTO (RS)
- 555.2 mm – VACARIA – VILA SÃO JOÃO (RS)
- 555.6 mm – ALTO FELIZ – ALTO FELIZ (RS)
- 562.6 mm – PCH PASSO DO MEIO MONTANTE (RS)
- 570.7 mm – BOA VISTA – CALUNGÁ (RR)
- 570.8 mm – FAZ, SÃO JOSÉ LINHA CARVALHO (RS)
- 575.2 mm – VIAMÃO – SANTA ISABEL (RS)
- 575.6 mm – UHE DONA FRANCISCA BARRAMENTO (RS)
- 580.6 mm – SOMBRIO – NOVA GUARITA (SC)
- 584.0 mm – CAMBARÁ DO SUL (RS)
- 592.2 mm – LINHA JOSÉ JÚLIO (RS)
- 593.8 mm – UHE DONA FRANCISCA ARROIO CARIJINHO (RS)
- 596.8 mm – BENTO GONÇALVES (RS)
- 597.8 mm – MUÇUM (RS)
- 625.4 mm – CAPÃO DOS COXOS (RS)
- 625.4 mm – MOCIDADE (RR)
- 628.8 mm – FÉ E ESPERANÇA (RR)
- 635.4 mm – CARACARAÍ (RR)
- 646.8 mm – SOLEDADE (RS)
- 647.8 mm – SERAFINA CORRÊA (RS)
- 654.6 mm – CAXIAS DO SUL – FORQUETA (RS)
- 657.4 mm – CANELA (RS)
- 659.2 mm – SOLEDADE – CENTRO (RS)
- 665.4 mm – RINCÃO DO HERVAL CERRO BRANCO (RS)
- 665.6 mm – SÃO FRANCISCO DE PAULA – CENTRO (RS)
- 680.0 mm – PCH SERRA DOS CAVALINHOS II JUSANTE (RS)
- 685.0 mm – OIAPOQUE (AP)
- 691.2 mm – PCH SÃO PAULO JUSANTE (RS)
- 695.6 mm – GUAPORÉ (RS)
- 697.2 mm – CAXIAS DO SUL (RS)
- 707.2 mm – PCH RASTRO DE AUTO BARRAMENTO (RS)
- 709.2 mm – FONTOURA XAVIER – CENTRO (RS)
- 720.8 mm – PCH DA ILHA PRATINHA (RS)
- 754.0 mm – PCH LINHA EMÍLIA JUSANTE (RS)
- 754.2 mm – UHE CASTRO ALVES (RS)-122 (RS)
- 765.2 mm – PCH COTIPORÃ JUSANTE (RS)
- 796.4 mm – NOSSA SENHORA APARECIDA (SE)
- 940.0 mm – PCH CAÇADOR MONTANTE (RS)
O mapa abaixo é resultado da combinação entre as chuvas registradas por satélites, combinadas com as estações de monitoramento em solo. E de todo o país, além do Rio Grande do Sul, apenas as extremidades registraram chuvas volumosas ao longo do mês, como em Roraima, extremo norte do Amapá, norte do Amazonas e norte do Pará.
A parcela central do Brasil, historicamente, tem um mês de maio com escassez de chuvas, tendência que segue até pelo menos o mês de setembro.
Mapa com estimativa de chuva a partir de satélites e estações.
Comparando os valores registrados com a média do período, a parcela central do Brasil ficou com chuvas dentro da média – como esperado – visto que os volumes esperados para o mês são inferiores aos 20 mm em áreas do centro-oeste, sudeste e MATOPIBA.
Contudo, neste último mês, as áreas mais chuvosas do país, tiveram chuvas acima da média, incluindo o extremo norte do Brasil, Recôncavo Baiano, litoral de Sergipe e Alagoas.
Os setores com chuvas, significativamente abaixo da média, foram apenas o noroeste do Amazonas. Entretanto, estados como Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, tiveram chuvas ligeiramente abaixo da média.
Mapa de anomalia – diferença entre o ocorrido e a média do período – de precipitação. Áreas em azul indicam chuvas acima da média, áreas em amarelo indicam chuvas abaixo da média e áreas em branco indicam chuvas dentro da média.
Mesmo em áreas onde as chuvas estiveram próximas da média, como Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, o mês de maio apresentou poucos episódios de precipitação, destacando setores com muitos dias sem chuva. Em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e no interior do MATOPIBA, há regiões que passaram o mês inteiro sem o registro de chuvas.
Mapa com número de ocorrência de chuvas ao longo do mês. Tons mais escuros indicam maior número de dias sem chuvas no período. Cores mais claras, indicam maior ocorrência de dias chuvosos. Fonte: Agrotempo.
Panorama Condições Oceânicas e El Niño
Em relação ao fenômeno El Niño- Oscilação Sul, as condições atuais mostram que estamos em um período de “Neutralidade”, ou seja, nem El Niño e nem La Niña.
As projeções de longo prazo indicam um cenário complexo nos próximos meses. Isso porque, nas mais recentes projeções, o cenário mais provável é de que a Neutralidade continue atuando além do previsto anteriormente.
Já as condições de Lã Niña, apresentaram uma queda de 86% para 62% de probabilidade máxima. Além disso, entre a projeção de abril e a projeção de maio, há um “adiamento” do ponto de maior probabilidade da La Niña, passando de outubro a dezembro, para novembro a janeiro.
Essa condição eleva as incertezas para qual momento a La Niña deve se estabelecer. Porém, a condição de Neutralidade é a certeza para o mês de junho.
Probabilidades para El Niño (vermelho), Neutralidade (cinza) e La Niña (azul), para os trimestres corridos. Fonte: IRI/Columbia.
Um cenário ainda mais conservador é indicado pelo Bureau de Meteorologia da Austrália, onde diversos membros do prognóstico indicam condições de neutralidade até o final da previsão em novembro.
Comparação entre as projeções para a anomalia da temperatura da superfície do mar na região do Nino3.4 no mês de maio. De acordo com o centro australiano, valores entre ±0.8°C em relação à média histórica, é considerado como Neutralidade do fenômeno El Niño. Fonte: BOM.
Já as simulações do centro Europeu (ECMWF) mostram uma dispersão muito grande entre os diferentes cenários. Entretanto, a média desses diferentes prognósticos indicam o resfriamento das águas na região de monitoramento do El Niño até o final da previsão em outubro. Esse resfriamento das águas pode atingir o limiar de -0.5°C abaixo da média, indicando a La Niña como o cenário mais provável.
Comparação entre diversas simulações para o índice Niño do European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF). Valores entre ±0.5°C indicam a condição de Neutralidade. Fonte: ECMWF.
Previsão de para as temperaturas junho 2024
No que diz respeito à previsão das temperaturas, praticamente todo o país deve ter registros acima da média. Desta forma, o início do inverno deve ser de pouco frio.
Contudo, há pontos de atenção como em áreas de Mato Grosso do Sul, norte do Paraná e Oeste Paulista, onde a previsão indica um mês de junho com registros até +3°C acima da média.
Essas temperaturas são um fator de preocupação, pois elas podem acentuar o déficit hídrico nessa região, uma vez que junho é caracterizado como um mês de poucas chuvas.
Apesar disso, a fronteira sul do Brasil, pode fechar o mês de junho com temperaturas dentro daquilo que seria esperado para a média do período.
Previsão para a variação de temperaturas em relação à média no mês de junho. Áreas em amarelo indicam previsão de temperaturas acima da média histórica.
Previsão de para as chuvas maio 2024
Em relação à previsão de chuvas para o mês de Junho, o prognóstico é mais complexo. Em resumo, as projeções iniciadas no início do mês de maio – projeções dos centros americanos – indicam um junho mais seco.
Já os prognósticos calculados no meio do mês de maio – projeções disponibilizadas pelo centro Europeu – mostram um cenário com chuvas acima da média, especificamente no Rio Grande do Sul, e um cenário misto nas demais regiões do país.
Mosaico das Projeções para Junho
Comparação entre diversas projeções para o desvio das chuvas no mês de junho de 2024.
Contudo a projeção mais recente mostra um quadro de chuvas abaixo da média histórica em grande parte do país, com destaque para áreas do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, sul de Minas, Rio de Janeiro, Espírito Santo, sul de Goiás, sul de Mato Grosso, Acre, Amazonas, Roraima, norte do Pará, Amapá, norte do Maranhão, norte do Piauí e SEALBA.
Em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tamb?e é esperado um período com chuvas abaixo da média na maior parte das áreas. Entretanto, há uma sinalização de chuvas mais recorrentes no sul de Santa Catarina e em todo o litoral gaúcho, o que pode trazer os acumulados do mês, para dentro da média histórica.
Já nas demais regiões do país, a projeção indica um cenário de chuvas dentro da média histórica, o que é um ponto de preocupação.
Essas chuvas dentro da média no Brasil central, representam acumulados inferiores aos 15 mm em todo o mês de junho.
Previsão para a variação das chuvas em relação à média no mês de maio. Áreas em laranja indicam previsão de chuvas abaixo, e áreas em verde indicam chuvas acima da média histórica.
O que esperar no agro em Junho
Sul
As projeções indicam um início de inverno com temperaturas acima da média histórica. Isso pode favorecer a aceleração do ciclo de culturas como milho safrinha – em estágios de enchimento de grãos e maturação – e trigo – desenvolvimento vegetativo e floração. No entanto, essa condição térmica associada à previsão de chuvas abaixo da média para a maior parte do Sul, exceto no litoral gaúcho e sul de Santa Catarina, poderá intensificar o déficit hídrico. Para culturas em fase crítica como o milho safrinha e o trigo, que dependem de umidade adequada durante o enchimento de grãos e floração, a falta de chuva pode comprometer o rendimento. Além disso, as culturas de clima temperado, podem ter menos horas de frio do que o necessário para o desenvolvimento adequado.
Sudeste
A previsão indica temperaturas acima da média histórica, com possibilidade de registros até +3°C acima do normal, principalmente no oeste paulista e sul de Minas Gerais. Este aumento de temperatura pode agravar o déficit hídrico, pois o mês será de chuvas abaixo da média, conforme previsões mais recentes. Esse cenário é preocupante para as culturas em diferentes estádios, como algodão, milho, feijão e trigo. Para o algodão em fase de formação de maçãs, maturação e colheita, as temperaturas elevadas podem acelerar o ciclo e aumentar a necessidade de irrigação. Já para o milho em enchimento de grãos e maturação, a combinação de calor e seca pode reduzir o potencial produtivo. O feijão e o trigo, em estágios de enchimento de grãos e desenvolvimento vegetativo, também podem sofrer estresse hídrico, impactando a formação dos grãos e, consequentemente, a produtividade.
Centro-Oeste
O prognóstico para o mês de junho indica temperaturas significativamente mais altas na região, o que pode agravar o déficit hídrico, especialmente em um mês caracterizado por baixas precipitações. As chuvas previstas para a região estão abaixo da média histórica, o que representa um acumulado inferior a 15 mm para o mês. Estes fatores climáticos adversos devem impactar negativamente os estádios das lavouras em campo, como o milho de segunda safra, em estágios de enchimento de grãos e o algodão em formação de maçãs, aumentando o risco de estresse hídrico e prejudicando o desenvolvimento adequado das plantas. No entanto, as condições de tempo seco e quente, devem acelerar a maturação das lavouras e favorecer uma maior quantidade de dias para as operações de colheita. Além do milho e algodão, as lavouras de trigo tamb?em devem sentir os efeitos do estresse térmico e hídrico, resultando em um ciclo mais curto nesta safra.
Nordeste
Para a região Nordeste, a previsão indica um cenário de temperaturas acima da média histórica, o que pode exacerbar o déficit hídrico, especialmente em um mês tradicionalmente seco. No Maranhão, Piauí e Bahia, onde as lavouras de milho safrinha devem estar em estágios de enchimento de grãos e maturação, e o feijão 3ª safra em emergência e desenvolvimento vegetativo, a falta de chuvas e o calor excessivo podem comprometer o enchimento dos grãos e a formação das plantas. Para o algodão, que se encontra em fases de formação de maçãs e maturação, as altas temperaturas podem acelerar a maturação, mas também aumentar a evapotranspiração, exigindo estratégias eficazes de gestão hídrica.
Norte
As projeções indicam temperaturas acima da média histórica, com impacto direto nas lavouras da região. É provável que o milho safrinha em fases de enchimento de grãos, maturação e colheita, possa ser comprometido pela escassez hídrica. Já as culturas de algodão, em estágio de maturação e colheita, também podem ser afetadas pela alta evapotranspiração.
Fonte: Agrolink.